
Como aliviar a dor no joelho e recuperar sua mobilidade
14/04/2025
O que é a Cartilagem do Joelho?
A cartilagem do joelho é como um amortecedor natural que protege nossa articulação. Pense nela como a borracha entre duas peças de metal em uma máquina: ela evita que os ossos se atritem diretamente, reduzindo o impacto e permitindo movimentos suaves. Essa estrutura lisa e resistente cobre as extremidades dos ossos (fêmur, tíbia e patela) dentro do joelho.
Um detalhe importante: diferente de outros tecidos do corpo, a cartilagem não tem vasos sanguíneos nem nervos. Isso significa que ela é como um pneu sem kit de reparo – quando danificada, sua capacidade de se regenerar sozinha é muito limitada.
Como acontecem as Lesões na Cartilagem?
As lesões na cartilagem do joelho podem ocorrer de três maneiras principais:
1 Traumas agudos
Como uma batida forte ou torção repentina (aquela jogada de futebol no fim de semana, um tropeço ou acidente de carro).
2 Microtraumas repetitivos
Imagine gotas d’água que, caindo sempre no mesmo lugar, acabam formando um buraco na pedra. Da mesma forma, movimentos repetidos (como correr diariamente no asfalto) vão desgastando a cartilagem aos poucos.
3 Desgaste natural
Com o tempo, nossa cartilagem vai se desgastando naturalmente, como os pneus de um carro após muitos quilômetros rodados. Isso leva à osteoartrose, comum em pessoas acima dos 50 anos.
Alguns fatores aumentam o risco de lesões cartilaginosas:
- Prática de esportes de alto impacto (futebol, basquete)
- Excesso de peso (cada quilo extra é como carregar uma mochila pesada o tempo todo)
- Predisposição genética (você pode herdar joelhos mais vulneráveis)
- Idade avançada
Sintomas que não devem ser ignorados
Quando a cartilagem está lesionada, o joelho costuma emitir sinais de alerta. Fique atento a:
- Dor: Pode ser difusa ou localizada no joelho, geralmente piorando com atividades como subir escadas ou agachar.
- Inchaço e inflamação: O joelho “incha” como um balão devido ao acúmulo de líquido na articulação.
- Sensação de travamento ou estalos: Como uma gaveta emperrada que só abre com dificuldade, seu joelho pode travar momentaneamente durante os movimentos. Pedaços soltos de cartilagem podem agir como pequenas pedras dentro de uma engrenagem.
- Rigidez e limitação de movimento: O joelho fica “duro”, dificultando dobrar ou esticar completamente a perna.
- Fraqueza ou instabilidade: Sensação de que o joelho pode falhar ao apoiar peso, como pisar em um degrau instável.
Importante: lesões na cartilagem não tratadas tendem a piorar com o tempo e podem evoluir para problemas mais sérios. É como uma pequena rachadura em um para-brisa – se não for consertada, tende a se espalhar.
Tratamentos conservadores: Cuidando da cartilagem sem cirurgia
Antes de pensar em cirurgia, existem várias opções não-cirúrgicas que podem ajudar:
Fisioterapia e Fortalecimento Muscular
Assim como um bom sistema de suspensão protege a carroceria de um carro, músculos fortes ao redor do joelho funcionam como “amortecedores vivos”, protegendo a cartilagem. A fisioterapia ajuda a:
- Manter a amplitude de movimento
- Melhorar a nutrição da cartilagem (que depende do movimento)
- Fortalecer os músculos da perna, especialmente o quadríceps
- Reduzir a dor e a inflamação
Controle de Peso e Adaptação de Atividades
Perder peso alivia significativamente a pressão sobre os joelhos. Pense assim: ao subir escadas, cada joelho suporta até 7 vezes o peso corporal. Perder 5kg pode significar 35kg a menos de pressão em cada passo!
Também é importante modificar atividades que pioram a dor:
- Evite agachar profundamente ou correr em superfícies duras
- Opte por exercícios de baixo impacto como natação e bicicleta
- Use calçados adequados que absorvam impacto
Medicamentos para Controle dos Sintomas
Anti-inflamatórios e analgésicos (como ibuprofeno, diclofenaco, paracetamol) ajudam a controlar a dor e a inflamação temporariamente. Eles são como extintor de incêndio – úteis para apagar as chamas, mas não consertam o que foi queimado.
Atenção: Use medicamentos apenas sob orientação médica, pois o uso prolongado pode causar efeitos colaterais como problemas gástricos e renais.
Injeções terapêuticas
Viscossuplementação (Ácido Hialurônico)
É como colocar óleo numa dobradiça enferrujada. Consiste em injetar no joelho uma substância lubrificante que reduz o atrito entre as superfícies da cartilagem. Pode proporcionar alívio por alguns meses, embora estudos recentes questionem sua eficácia a longo prazo.
Plasma rico em plaquetas (PRP)
O PRP utiliza o poder de cura do próprio corpo. O processo é simples: retira-se sangue do paciente, concentram-se as plaquetas (células responsáveis pela cicatrização) em laboratório e depois se injeta esse concentrado no joelho afetado.
Imagine as plaquetas como uma equipe de manutenção que chega com ferramentas para reparar danos. Estudos mostram que o PRP pode proporcionar alívio da dor por 6-12 meses e melhorar a função do joelho.
Suplementos alimentares (Condroprotetores)
Substâncias como glicosamina, condroitina e colágeno são vendidas com a promessa de proteger a cartilagem. No entanto, são como fertilizantes para uma planta – podem ajudar em condições ideais, mas têm efeito limitado se o terreno já estiver muito comprometido.
Evidências científicas sobre sua eficácia são controversas. Se utilizados, devem ser tomados por meses para avaliar resposta, sempre com orientação médica e sem expectativas milagrosas.
Quando a cirurgia é necessária?
Quando os tratamentos conservadores não são suficientes, principalmente em lesões maiores ou em pacientes jovens e ativos, as abordagens cirúrgicas entram em cena. As técnicas mais modernas incluem:
Artroscopia com limpeza (Desbridamento)
É como uma faxina no joelho. Por meio de pequenos cortes, o cirurgião remove fragmentos soltos de cartilagem e regulariza bordas desgastadas. O procedimento é simples e pode aliviar a dor temporariamente, embora não restaure a cartilagem original.
Microfraturas (Estimulação da Medula Óssea)
Esta técnica engenhosa cria pequenos furos no osso abaixo da cartilagem danificada. É como perfurar um jardim para plantar sementes – o sangue e células-tronco que saem desses furos formam um “coágulo inteligente” que se transforma em fibrocartilagem, preenchendo o defeito.
Funciona melhor em lesões pequenas (menores que 2,5 cm²) e em pacientes jovens. A nova cartilagem formada não é idêntica à original (é como asfalto substituto em vez do original), mas pode proporcionar bons resultados por anos.
Mosaicoplastia (Transplante Osteocondral)
Como o nome sugere, esta técnica cria um “mosaico” no joelho. Pequenos cilindros de cartilagem saudável são retirados de áreas que suportam menos peso e transplantados para o local da lesão. É como pegar lajotas de um canto menos usado da casa para consertar o piso da sala de estar.
Ideal para lesões de 1 a 4 cm², a mosaicoplastia leva cartilagem verdadeira para a área danificada. A limitação principal é a quantidade de cartilagem disponível para “doação” sem criar problemas em outros locais.
Implante Autólogo de Condrócitos (ACI)
Esta técnica de medicina regenerativa é como cultivar um jardim personalizado. Primeiro, colhe-se um pequeno pedaço de cartilagem saudável do próprio paciente. As células são cultivadas em laboratório por semanas, multiplicando-se. Depois, em uma segunda cirurgia, são implantadas na lesão, geralmente sob uma membrana protetora.
O ACI é indicado para lesões grandes (até 10-12 cm²) e pode criar cartilagem de qualidade superior à das microfraturas. A desvantagem é o custo elevado e a necessidade de duas cirurgias.
Recuperação e Reabilitação
Após qualquer tratamento para cartilagem, a reabilitação é crucial – é como cuidar de uma muda recém-plantada até que se torne forte o suficiente para resistir sozinha.
O processo geralmente inclui:
- Período inicial com muletas para proteger o reparo
- Fisioterapia progressiva para recuperar mobilidade e força
- Retorno gradual às atividades (de 4-6 meses para procedimentos mais simples, até 9-12 meses para técnicas avançadas)
Prevenção: Melhor que qualquer cura
Como diz o ditado, “é melhor prevenir do que remediar”. Para proteger seus joelhos:
- Mantenha um peso saudável
- Fortaleça regularmente a musculatura das pernas
- Aumente a intensidade de exercícios gradualmente
- Use calçados adequados para absorção de impacto
- Realize aquecimento antes de atividades físicas
- Não ignore dores persistentes no joelho
Considerações finais
As lesões na cartilagem do joelho evoluíram de um diagnóstico desanimador para um campo de intensa inovação. Hoje existem múltiplas opções de tratamento, desde abordagens conservadoras até técnicas cirúrgicas avançadas.
Cada pessoa terá um plano de tratamento personalizado, considerando idade, nível de atividade, tamanho da lesão e expectativas. O sucesso depende tanto da escolha do tratamento adequado quanto do comprometimento com a reabilitação.
Lembre-se: seus joelhos são as dobradiças que sustentam sua mobilidade por toda a vida. Com informação, prevenção e os tratamentos corretos, você pode manter suas articulações saudáveis e ativas por muitos anos. Consulte sempre um ortopedista especializado em joelho para avaliação adequada e orientações personalizadas.